Liesel.
Foi o que sua alma sussurrou quando o carreguei. Mas não havia Liesel naquela casa. Não para mim, pelo menos.
Para mim, havia apenas Rosa e, sim, acho mesmo que a peguei no meio de um ronco, pois sua boca estava aberta e seus lábios rosados de papel ainda executavam o ato de se mexer. Se me visse, tenho certeza de que ela me chamaria de Saukerl, embora eu não a levasse a mal. Depois de ler A menina que roubava livros, descobri que era assim que ela chamava todo mundo. Saukerl. Saumensch. Especialmente as pessoas a quem amava. Seu cabelo elástico estava solto. Roçava o travesseiro, e seu corpo de guarda-roupa se levantara com o pulsar de seu coração. Não se deixe enganar, a mulher tinha coração. Um coração maior do que as pessoas suporiam. Havia muita coisa armazenada nele, em quilômetros de prateleiras altas e ocultas. Lembre-se que ela foi a mulher com o instrumento preso ao corpo pelas alças, na longa noite enluarada. Foi a que alimentou um judeu, sem uma única pergunta, na primeira noite de um homem em Molching. E foi a que esticou o braço, bem no fundo de um colchão, para entregar um caderno de desenho a uma adolescente."
***
É pelo fato de o mundo não parar e nem esperar por você que jamais se deve hesitar. Às vezes pensar se torna algo tão difícil e tão insistente, que, quanto mais você força, mais se é atropelado. Pense rápido. Faça rápido. Não, faça devagar. Faça na intensidade que lhe for mais conveniente. Olhe, analise, escolha, marque. Pense se a opção lhe parecer duvidosa, mas não duvide do que você pensa. Uma hora aqui, outra não mais. É assim que é, então jogue conforme a regra manda. Não, não siga as regras, conduze-as. Contorne-as ou apenas as ignore. Mas quando se conhece o plano, é difícil ignorá-la. Tudo que se é planejado é mais confiável. Mas não confie. A única pessoa que se deve confiar é em você mesmo, mas não no que você pensa. Na verdade, não confie em você mesmo. Seu subconsciente é ainda mais traiçoeiro do que aquele que você jamais vai se deixar levar.
Não pense. Faça. Olhe em volta. Repita. Estimule, roube. Faça o que é melhor, mas não esqueça de provar o pior.
O pior é o que define o que é melhor.
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