O que há de errado com as garotas do mundo? Aquela maioria significante que, em uma sexta ou sábado de céu escuro sem contraste, se encontra recolhendo pequenos bobos pedaços. Pedaços que cortam, mas precisam ser recolhidos. Esse mesmo sábado transforma essas mesmas bobas garotas em apenas meninas. Meninas recolhidas em um pijama de flanela velho, mas que lhe aquece como um abraço de um amigo, agarrada a um pote de sorvete ou a um programa qualquer na televisão. Antes que perceba, as lágrimas interrompem aquele momento lindo naquela comédia romântica, tudo aquilo que você não quer ver, mas seus dedos parecem apertar os botões do controle remoto sem que você perceba.
Mas no fim daquela série de comédias românticas que você viu a tarde toda, a boba menina já não é mais tão boba assim. No fundo da sua cabeça medíocre e sensível, há uma voz qualificada em agir nesses momentos, no pico do bobagem do dia-a-dia. Você vai continuar do jeito que você está o resto da sua vida se não fizer alguma coisa, é o que diz essa voz. E depois de algumas conversas, de se informar das coisas que irão rolar quando o sol já tiver dado vez à luz da lua, linda, cinza e esplêndida, é hora da menina se revelar muito mais que isso. É quando um tubinho preto brilhante que lhe aperta nas curvas certas, um bom salto alto berrante e uma make em tons escuros e fortes faz toda a diferença. A menina que apresentei-lhe naquele sábado já era.
Beija um ou dois na mesma noite. Grita e aperta os lábios ao sentir o gosto amargo da vodka descendo pela garganta.- É bom que esquece o quanto o sentimento de dentro é doce. As cores da festa faz com que ela se jogue no meio da pista, seu corpo balançando exatamente no ritmo da música. As comédias românticas vistas no começo do dia já nem passam pela sua cabeça. Nem mesmo o cara certo, o mocinho. Ela quer mesmo é o vilão.
E ele está lá, sim. Dançando no meio da pista, com a vodka escorrendo do copo para seu braço sem nem mesmo incomodar, ela está observando-o com o canto do olho. Ele nem percebe e é exatamente por isso que ela acha que ainda está sendo forte, que parece que já não importa mais. Quando se lembra que ele nem a conhece direito, aí é que a vodka desce ainda mais fácil, mais prazeroso, mais bem-vinda. Ela quer que ele a note, quer sim, e diz para quem quiser ouvir que, se ele a notar, ela não vai dar o braço a torcer. Ela vai gritar independência.
Não pense que ela não é forte, porque ela cumpriu sua palavra e seu peito se encheu de orgulho-próprio. Pena que, ao deitar-se no fim da noite - ou no começo da manhã -, sua mente lhe fala claramente: silly life. Porque mais tarde, num futuro talvez próximo, ela vai ver que esses momentos nada significam e vai rir de si quando ver também que nada era naquela intensidade.
Que ela é apenas uma garota.
Você fez uma descrição de uma antiga fase da minha vida agora.
ResponderExcluirGostei do blog.
beijo!
Caramba, incrível um sábado narrado dessa maneira, a transição do velho pijama de flanela para o tubinho preto, da comédia romântica para a pista de dança, do drama para a sensualidade. É quase uma montanha russa isso da maneira conforme contou. Foi um prazer ler você, Manuela! Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirConvido para que leia e comente O Caminho Para Casa de Portinari no http://jefhcardoso.blogspot.com/
“Que o dom da escrita me sirva como arma contra o silêncio em vida, pois terei a morte inteira para silenciar um dia” (Jefhcardoso)